Adorei que na mesma newsletter você falou sobre corujas e sobre jogar tênis, porque justamente o que eu tenho pra contar é sobre essas duas coisas juntas. Aqui na minha cidade tem um centro esportivo que tem três quadras de saibro, e no fundo das quadras tem um pequeno barranco de grama, e lá nesse barranco algumas corujas fizeram suas tocas, então sempre que você joga tênis no final da tarde, você tem corujas como espectadoras. E eu, no caso, sempre que termino o jogo converso com elas, não que elas entendam qualquer coisa ou se abalem com o que eu falo, mas pra mim é impossível vê-las e não querer conversar.
Uma coisa que amo em Berlim é ver a partida e a chegada dos pássaros nas diferentes estações. A dança, o grupo enorme se juntando e se exibindo (na minha concepção, claro) antes de dar um rasante conjunto e sumindo no horizonte. Tenho vídeos e vídeos desse balé.
eu adoro ouvir o canto dos pássaros. em casa, ouço sempre a algazarra das maritacas pela manhã e no fim da tarde. e ainda tem os bem-te-vis sempre à espreita.
Lendo a news com a profusão e exuberância dos cantos dos pássaros nos galhos frente à minha janela, em uma vizinhança em Brasília. Temerosa com esse futuro que se anuncia silencioso.
sempre que dá merda com animais não humanos o responsável são os humanos, podes crer. fernando de noronha tem bastante problema com “espécies invasoras”, os gatos sendo uma das principais. fui conversar com os biólogos do icmbio sobre isso e descobri que o plano de manejo desejável era capturar — para castrar, correto? ele me disse que, se conseguisse capturar um gato feral, se dependesse dele jamais devolveria para o ambiente natural. ou seja, forca pros gatos. infelizmente estavam de mãos atadas pois a legislação não permite eutanásia de animais saudáveis. isso já faz uma década, não sei como resolveram. a população de gatos ferais em noronha é enorme. provavelmente não resolveram e as colônias devem estar ainda maiores.
a primeira vez que eu li sobre a ameaça dos gatos domésticos aos pássaros foi no livro freedom, do johnatan franzen. mas por que existe tanto gato doméstico e feral? qual a responsabilidade dos humanos nisso? a “culpa” não é dos gatos, eles estão apenas sendo gatos (que foram um dia domesticados por humanos)
Quando li Freedom, achei insuportável esse traço antigatos radical do personagem. Depois, descobri que o próprio Franzen é assim. De primeira, você até pensa: "Sim, faz sentido, uma desgraça esses gatos matando pássaros." Mas, se pensar um pouco mais, já vê de outro modo: por que a vida dos pássaros seria tão mais importante que a dos gatos? Quando você escolhe uma espécie como mais merecedora de vida e liberdade do que outra, isso é o mais puro especismo.
por outro lado, a treta dos conservacionistas que protegen passarinhos é muito mais com os “donos de pet” do que com os pets em si, eu penso. se a galera exercesse uma tutoria mais responsável não ia ter tanto gato comendo ninho de passarinho por aí. o que nos leva a refletir sobre qual é o lugar de animais domesticados no mundo em que vivemos hoje. é assunto que não acaba mais, rsrs. gracias pela oportunidade de charlar sobre isso.
eu acho que a abordagem, tanto do franzen quanto do biólogo de noronha, é equivocada. primeiro que parte de uma visão antropocêntrica, como tu disse: o humano decidindo quem vive e quem morre, com base na “função” daquele ser — utilidade para os humanos. depois que se exime da responsabilidade, como se fosse natural uma colônia de gatos em noronha (ou a proliferação dos veados pq não tem mais puma, como a Carol falou no texto). noronha é uma ilha, o gato não foi até lá nadando. os humanos agem como se não tivessem nada a ver com os desequilíbrios causados pela domesticação, urbanização, exploração de outras espécies. vide o monte de cachorro e gato vivendo nas ruas das grandes cidades. a maioria dos cidadãos acha que não é problema e nem responsabilidade sua. e até pode não ser diretamente, mas é um “passivo”, digamos, de todo mundo que é parte da espécie humana.
Pois é, me surpreendeu o biólogo lamentar que a legislação não permite o extermínio dos gatos (eutanásia não passa de eufemismo). Há outras formas menos preguiçosas e cruéis de fazer o manejo da população. Primeiro se poderia capturar para fazer esterilização, depois campanhas de doação para fora da ilha, além da proibição da entrada de novos gatos. Poderia levar anos, mas resolveria o problema.
Adorei que na mesma newsletter você falou sobre corujas e sobre jogar tênis, porque justamente o que eu tenho pra contar é sobre essas duas coisas juntas. Aqui na minha cidade tem um centro esportivo que tem três quadras de saibro, e no fundo das quadras tem um pequeno barranco de grama, e lá nesse barranco algumas corujas fizeram suas tocas, então sempre que você joga tênis no final da tarde, você tem corujas como espectadoras. E eu, no caso, sempre que termino o jogo converso com elas, não que elas entendam qualquer coisa ou se abalem com o que eu falo, mas pra mim é impossível vê-las e não querer conversar.
Uma coisa que amo em Berlim é ver a partida e a chegada dos pássaros nas diferentes estações. A dança, o grupo enorme se juntando e se exibindo (na minha concepção, claro) antes de dar um rasante conjunto e sumindo no horizonte. Tenho vídeos e vídeos desse balé.
É, até onde a gente consegue captar a única espécie invasora é a humana do planeta Terra
"Toda a vida que sobreviveu a nós merece ser reverenciada."
flecha certeira.
Belo texto!
eu adoro ouvir o canto dos pássaros. em casa, ouço sempre a algazarra das maritacas pela manhã e no fim da tarde. e ainda tem os bem-te-vis sempre à espreita.
Lendo a news com a profusão e exuberância dos cantos dos pássaros nos galhos frente à minha janela, em uma vizinhança em Brasília. Temerosa com esse futuro que se anuncia silencioso.
Olá! Seu (ótimo) texto me lembrou este ensaio (que já virou um livro) do fotógrafo britâncio Stephen Gill: https://www.stephengill.co.uk/portfolio/portfolio/nggallery/album/the-pillar/thumbnails
Obrigado! :)
Um tema duro com uma escrita fluída.
Queremos relatos de Roland Garros!
sempre que dá merda com animais não humanos o responsável são os humanos, podes crer. fernando de noronha tem bastante problema com “espécies invasoras”, os gatos sendo uma das principais. fui conversar com os biólogos do icmbio sobre isso e descobri que o plano de manejo desejável era capturar — para castrar, correto? ele me disse que, se conseguisse capturar um gato feral, se dependesse dele jamais devolveria para o ambiente natural. ou seja, forca pros gatos. infelizmente estavam de mãos atadas pois a legislação não permite eutanásia de animais saudáveis. isso já faz uma década, não sei como resolveram. a população de gatos ferais em noronha é enorme. provavelmente não resolveram e as colônias devem estar ainda maiores.
a primeira vez que eu li sobre a ameaça dos gatos domésticos aos pássaros foi no livro freedom, do johnatan franzen. mas por que existe tanto gato doméstico e feral? qual a responsabilidade dos humanos nisso? a “culpa” não é dos gatos, eles estão apenas sendo gatos (que foram um dia domesticados por humanos)
Quando li Freedom, achei insuportável esse traço antigatos radical do personagem. Depois, descobri que o próprio Franzen é assim. De primeira, você até pensa: "Sim, faz sentido, uma desgraça esses gatos matando pássaros." Mas, se pensar um pouco mais, já vê de outro modo: por que a vida dos pássaros seria tão mais importante que a dos gatos? Quando você escolhe uma espécie como mais merecedora de vida e liberdade do que outra, isso é o mais puro especismo.
por outro lado, a treta dos conservacionistas que protegen passarinhos é muito mais com os “donos de pet” do que com os pets em si, eu penso. se a galera exercesse uma tutoria mais responsável não ia ter tanto gato comendo ninho de passarinho por aí. o que nos leva a refletir sobre qual é o lugar de animais domesticados no mundo em que vivemos hoje. é assunto que não acaba mais, rsrs. gracias pela oportunidade de charlar sobre isso.
eu acho que a abordagem, tanto do franzen quanto do biólogo de noronha, é equivocada. primeiro que parte de uma visão antropocêntrica, como tu disse: o humano decidindo quem vive e quem morre, com base na “função” daquele ser — utilidade para os humanos. depois que se exime da responsabilidade, como se fosse natural uma colônia de gatos em noronha (ou a proliferação dos veados pq não tem mais puma, como a Carol falou no texto). noronha é uma ilha, o gato não foi até lá nadando. os humanos agem como se não tivessem nada a ver com os desequilíbrios causados pela domesticação, urbanização, exploração de outras espécies. vide o monte de cachorro e gato vivendo nas ruas das grandes cidades. a maioria dos cidadãos acha que não é problema e nem responsabilidade sua. e até pode não ser diretamente, mas é um “passivo”, digamos, de todo mundo que é parte da espécie humana.
Pois é, me surpreendeu o biólogo lamentar que a legislação não permite o extermínio dos gatos (eutanásia não passa de eufemismo). Há outras formas menos preguiçosas e cruéis de fazer o manejo da população. Primeiro se poderia capturar para fazer esterilização, depois campanhas de doação para fora da ilha, além da proibição da entrada de novos gatos. Poderia levar anos, mas resolveria o problema.