Eu vivi na prática o exemplo dado pelo Dunkelman. Moro em Bali e a escola dos meus filhos reúne uma comunidade de expatriados endinheirados que me dá arrepios. Um deles, um britânico - o mundo se transforma, mas a vocação predadora dos bucaneiros ingleses só se recicla -, aparentava enxergar apenas novas maneiras de ficar ainda mais rico. Baseando-me pelas manifestações de WhatsApp, rotulei logo: Neocolonizador. Até que meu filho foi se interessar logo por quem? A filha do cara. E aí começamos um lento processo de aproximação. Acabei descobrindo que o cara é pianista na vida privada e praticamente estruturou o currículo de música na escola, por acreditar que ninguém pode ser formado sem contato com arte. A esposa é artista plástica. Ele também incentivou a escola a investir mais nos esportes, preocupado com o excesso de sedentarismo das crianças na frente das telas. Enfim, ninguém é só uma coisa, né? Mas a convivência exclusivamente digital dificulta essa visão do todo.
O vilarejo ensina tolerância, e também abertura, sensibilidade, apreciação pelas diferenças e o entendimento de que elas podem conviver 🤍 estive num pequeno vilarejo numa ilha bahiana e é impressionante como o clima é outro, desde o bom dia até o te vejo depois. Sinto falta disso morando numa grande metrópole, onde tudo é impessoal e não há tempo para deixar de ser.
Eu adoro tudo o que você escreve, mas esse texto foi diferente, foi além. Do mercado até Dunkelman, tudo fez sentido - até naqueles espaços em que nada faz sentido.
A Nevoeiro me ajuda a tolerar mais a internet. Não fosse essa rede e eu não receberia pequenas obras-primas de newsletter, como essa edição 49. Obrigado!
"No Harvest, parece que todo mundo é um pouco Hirayama, o protagonista de Dias Perfeitos, em variados graus. Há uma mulher que ultimamente virou minha personagem favorita do mercado que é a mais Hirayama de todas (versão falante) e que, outro dia, numa tarde ensolarada, fez a outra funcionária reparar na forma como a luz do sol batia nas orquídeas à venda, uma cena tão bonita que parecia escrita pelo Wim Wenders mas não, estava realmente acontecendo bem na minha frente."
me deu vontade de conhecer ela e o supermercado e me lembrou o livro "Bem-vindos à livraria Hyunam-dong" - se você ainda não leu, acho que vai curtir! ✨
obrigada por compartilhar essa edição com a gente! beijo!
Queria muito conhecer o Hirayama do meu bairro. Vou observar mais. Nunca pensei em ver para onde as coisas que envio para o correio vão. Excelente ideia.
faço o trajeto oposto no google maps! sempre dou uma espiada no endereço dos remetentes dos mil badulaques que adquiro. (e aí a cabeça começa a fervilhar e criar cenas e bem, tu sabe).
Eu vivi na prática o exemplo dado pelo Dunkelman. Moro em Bali e a escola dos meus filhos reúne uma comunidade de expatriados endinheirados que me dá arrepios. Um deles, um britânico - o mundo se transforma, mas a vocação predadora dos bucaneiros ingleses só se recicla -, aparentava enxergar apenas novas maneiras de ficar ainda mais rico. Baseando-me pelas manifestações de WhatsApp, rotulei logo: Neocolonizador. Até que meu filho foi se interessar logo por quem? A filha do cara. E aí começamos um lento processo de aproximação. Acabei descobrindo que o cara é pianista na vida privada e praticamente estruturou o currículo de música na escola, por acreditar que ninguém pode ser formado sem contato com arte. A esposa é artista plástica. Ele também incentivou a escola a investir mais nos esportes, preocupado com o excesso de sedentarismo das crianças na frente das telas. Enfim, ninguém é só uma coisa, né? Mas a convivência exclusivamente digital dificulta essa visão do todo.
Que belo exemplo, obrigada por compartilhar com a gente!
Isso me lembra muito um poema da Szymborska que eu amo
"agradecimento"
Devo imenso
aos que não amo.
O alívio com que aceito
eles estarem mais próximos de outras pessoas.
A alegria de não ser eu
o lobo dos seus cordeiros.
A minha paz com eles,
com eles a minha liberdade,
e isto não o pode dar o amor
nem o consegue tirar.
Não espero por eles
entre porta e janela.
Quase tão calma
como um relógio de sol,
entendo
o que o amor não entende,
desculpo
o que o amor jamais desculparia.
Entre carta e encontro
não passa a eternidade,
mas simplesmente uns dias ou semanas.
As viagens com eles são conseguidas,
os concertos escutados,
as catedrais visitadas,
as paisagens nítidas.
E quando nos separam
sete rios e montanhas,
são rios e montanhas
bem conhecidos dos mapas.
É mérito deles
que eu viva em três dimensões,
num espaço não lírico e não retórico
com um horizonte real porque movente.
Eles próprios ignoram
quanto trazem nas mãos vazias.
«Nada lhes devo» -
diria o amor
a este tema aberto.
wislawa szymborska
paisagem com grão de areia
trad. júlio sousa gomes
relógio d’água
1998
https://canaldepoesia.blogspot.com/2017/12/wislawa-szymborska-agradecimento.html#google_vignette
bonito!
O vilarejo ensina tolerância, e também abertura, sensibilidade, apreciação pelas diferenças e o entendimento de que elas podem conviver 🤍 estive num pequeno vilarejo numa ilha bahiana e é impressionante como o clima é outro, desde o bom dia até o te vejo depois. Sinto falta disso morando numa grande metrópole, onde tudo é impessoal e não há tempo para deixar de ser.
Eu adoro tudo o que você escreve, mas esse texto foi diferente, foi além. Do mercado até Dunkelman, tudo fez sentido - até naqueles espaços em que nada faz sentido.
Lindo demais!
Obrigada, Luiza!
A Nevoeiro me ajuda a tolerar mais a internet. Não fosse essa rede e eu não receberia pequenas obras-primas de newsletter, como essa edição 49. Obrigado!
Opa! Que bom estar do lado bom da internet :)
Lendo aqui a matéria do The Atlantic e... OMG
O texto da The Atlantic é excelente! Valeu pela dica, Carol!
Carol, entrei na página e não localizei opção para ser uma assinante pago. Poderia me informar o caminho por gentileza?
Oi, Ana Paula! Aqui há um tutorial: https://support.substack.com/hc/en-us/articles/6051838054932-How-do-I-upgrade-from-being-a-free-subscriber-to-a-paid-subscriber
Se tiver dificuldade, por favor, me avisa. Também dá para fazer pelo pix (inscrição anual).
abraço!
Amei! Lembro bem também das edições da Capricho e daquelas vastas tardes. Vilarejos prístinos.
Quase ninguém que eu conheça viu Dias Perfeitos. Acho triste.
Sério? Faça essa gente assistir!
amei a news de hoje ♥️ minha parte preferida:
"No Harvest, parece que todo mundo é um pouco Hirayama, o protagonista de Dias Perfeitos, em variados graus. Há uma mulher que ultimamente virou minha personagem favorita do mercado que é a mais Hirayama de todas (versão falante) e que, outro dia, numa tarde ensolarada, fez a outra funcionária reparar na forma como a luz do sol batia nas orquídeas à venda, uma cena tão bonita que parecia escrita pelo Wim Wenders mas não, estava realmente acontecendo bem na minha frente."
me deu vontade de conhecer ela e o supermercado e me lembrou o livro "Bem-vindos à livraria Hyunam-dong" - se você ainda não leu, acho que vai curtir! ✨
obrigada por compartilhar essa edição com a gente! beijo!
Boa dica, não conheço o livro.
E, da próxima vez que você vier a Mendocino, nos encontramos e eu te mostro a Hirayama (e você não vai acreditar: o nome dela é Jessica!)
ahhh que demais, amei ♥️
Ansiosa desde já é pouco! Vem Outubro!!!! 🥰🤗
Carol, como eu amo as suas news ...
<3
Queria muito conhecer o Hirayama do meu bairro. Vou observar mais. Nunca pensei em ver para onde as coisas que envio para o correio vão. Excelente ideia.
faço o trajeto oposto no google maps! sempre dou uma espiada no endereço dos remetentes dos mil badulaques que adquiro. (e aí a cabeça começa a fervilhar e criar cenas e bem, tu sabe).
Vendo livros e nunca tive essa curiosidade de ver pra onde tão indo, boa ideia
Olha eu dando ideia maluca, hahaha