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Ferdinando Casagrande's avatar

Eu vivi na prática o exemplo dado pelo Dunkelman. Moro em Bali e a escola dos meus filhos reúne uma comunidade de expatriados endinheirados que me dá arrepios. Um deles, um britânico - o mundo se transforma, mas a vocação predadora dos bucaneiros ingleses só se recicla -, aparentava enxergar apenas novas maneiras de ficar ainda mais rico. Baseando-me pelas manifestações de WhatsApp, rotulei logo: Neocolonizador. Até que meu filho foi se interessar logo por quem? A filha do cara. E aí começamos um lento processo de aproximação. Acabei descobrindo que o cara é pianista na vida privada e praticamente estruturou o currículo de música na escola, por acreditar que ninguém pode ser formado sem contato com arte. A esposa é artista plástica. Ele também incentivou a escola a investir mais nos esportes, preocupado com o excesso de sedentarismo das crianças na frente das telas. Enfim, ninguém é só uma coisa, né? Mas a convivência exclusivamente digital dificulta essa visão do todo.

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Diana Salu's avatar

Isso me lembra muito um poema da Szymborska que eu amo

"agradecimento"

Devo imenso

aos que não amo.

O alívio com que aceito

eles estarem mais próximos de outras pessoas.

A alegria de não ser eu

o lobo dos seus cordeiros.

A minha paz com eles,

com eles a minha liberdade,

e isto não o pode dar o amor

nem o consegue tirar.

Não espero por eles

entre porta e janela.

Quase tão calma

como um relógio de sol,

entendo

o que o amor não entende,

desculpo

o que o amor jamais desculparia.

Entre carta e encontro

não passa a eternidade,

mas simplesmente uns dias ou semanas.

As viagens com eles são conseguidas,

os concertos escutados,

as catedrais visitadas,

as paisagens nítidas.

E quando nos separam

sete rios e montanhas,

são rios e montanhas

bem conhecidos dos mapas.

É mérito deles

que eu viva em três dimensões,

num espaço não lírico e não retórico

com um horizonte real porque movente.

Eles próprios ignoram

quanto trazem nas mãos vazias.

«Nada lhes devo» -

diria o amor

a este tema aberto.

wislawa szymborska

paisagem com grão de areia

trad. júlio sousa gomes

relógio d’água

1998

https://canaldepoesia.blogspot.com/2017/12/wislawa-szymborska-agradecimento.html#google_vignette

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