Nossa, não acredito que outro brasileiro escuta essa banda! Eu adorava muito esse som uns anos atrás – agora faz tempo que não escuto –, e não tinha reconhecido a palavra como o nome de uma música do Nausea. Obrigada por isso.
desconfio que as gerações mais jovens - que já cresceram com smartphones em mãos - não experimentaram o tédio como nós, aquelas tardes intermináveis. aceleramos tanto o tempo que o que eles sentem agora é uma agonia de estar perdendo alguma coisa importante a cada segundo, uma angústia, uma ansiedade. acho que a natureza entra um pouco nesse pacote: o tempo dela é outro, lento, definido, preciso. não tem velocidade 2x, pular 10 segundos...
É isso aí. Lendo teu comentário, me ocorre que o problema é justamente esse: a diferença entre a nossa noção de tempo e o tempo da natureza ficou imenso demais.
Ontem ouvi uma aula/resenha sobre o livro "Nação dopamina", e o cérebro deles (até o nosso, que também entrou nessa onda, embora ainda tenha lembranças do tempo em que não estávamos hiperconectados) está tão habituado àquelas doses de dopamina, que busca sempre mais, pra equilibrar - é que, quando detecta o excesso, o cérebro vai lá e derruba o nível lá pra baixo, nessa tentativa de chegar ao equilíbrio, e vira um círculo vicioso. Bem louco. Esse trecho aqui tá fantástico, porque os excessos relacionados à comida definitivamente fazem o mesmo que os excessos digitais: "Aquele tempo no Instagram em que parece que você comeu um pacote inteiro da coisa mais cheia de conservantes e corantes e aromatizantes e que nem gostosa era, e agora lide com isso, se contorcendo de arrependimento e queimação no estômago."
Que lindeza de reflexão! Olha como “Dias Perfeitos” rendeu. Eu adorei o podcast do MUBI com o Wim Wenders (alias, ele mora no bairro vizinho ao meu e um dia, no meio da pandemia, eu o vi na rua). Btw, eu amei essa afirmação “as pessoas que você gosta na vida real mas que nas redes sociais são insuportáveis”. Me deu um alívio porque, oh, God!
Adorei que você deu essa dica do podcast do MUBI! Separei aqui, só ainda não consegui ouvir. E SIM, a coisa da persona virtual é brabo. Medo de ser uma dessas no Instagram hahaha.
Nossa, eu falei sobre essa “lentidão” dos anos 90 esse final de semana com meu marido. Ouvi uma música que eu adoro e lembrei que a primeira vez que eu escutei, eu não tinha a opção de escutar de novo. Tinha que esperar tocar na rádio. Engraçado que isso não me causava ansiedade. Hoje em dia saber que uma banda que eu gosto lançou um novo álbum e eu ainda não consegui ouvir todo, me causa ansiedade
Interessante como cada um tira uma coisa diferente de "Dias Perfeitos" né. Eu gostei demais da ética de trabalho do personagem, como ele leva a sério e faz com o maior cudado o trabalho dele - limpar latrinas. Também me impactoiu e relação dele com a leitura, aquele livrinho que ele fica lendo no tatame antes de dormir - um objetivo de vida.
meu filme preferido até o momento. aquele encantamento que ele sente contemplando a natureza é muito bonito. a simplicidade que ele leva a vida parece uma reza diária que ele faz…
Tem um documentário chamado “Moriyama-san” produzido por Bêka and Lemoine em 2016 que muitos alegam ter sido a inspiração pra criação do Hirayama de Wenders. Se é verdade ou não, não sei. Mas o fato é que as semelhanças são grandes mesmo!
Lindo texto! Nosso exílio no smartphone é insuportável. O antropoceno é a nossa extinção. Dias perfeitos nos convida a prestar atenção à vida perfeita que já está aqui bem pertinho. Abraço.
Caramba, Carol. Excelente gancho entre o mundo em agonia, nossa busca em se conectar com a natureza, e Dias Perfeitos. Até tenho a sensação de que não deixamos tempo livre para observar o mundo diante do bombardeio constante de notícias neste aparelho eletrônico doido que carregamos no bolso. Por isso às vezes até parece ser 'errado' ter um comportamento de Hirayama e se entregar à simplicidade enquanto o mundo se corroi. Era bom ter algum conforto e muitos nadas pra fazer nas tardes preguiçosas dos anos 90 :~ agora seguimos na busca por alguma paz e equilíbrio em meio ao caos. Baita textão, amei demais <3
Boa, Lidyanne, você tocou num ponto essencial: parece errado. A sociedade nos vende, por motivos óbvios, a ideia de que bonito é ser produtivo, bonito é não ter tempo pra nada.
Carol, como sempre sua voz nos traduzindo espetacularmente. Como todos, tenho sofrido com a crise climática no BRA. Mas, a sociedade cafona continua lavando calçada com máquina de jato e cimentando os quintais (como disse a FY). O lance é mesmo o Agora e, mesmo sofrendo, precisamos ficar o mais próximo possível de Gaia. Grande abraço. (PS: Uma Casa No Fim Do Mundo ❤️)
É brabo. Meu pai me contou essa semana que um vizinho de Porto Alegre queria mandar contar umas plantas frutíferas porque estavam atraindo... pássaros. É muita taquanhice.
Pois então, muito jovem eu já achava q era insustentável o jeito q vivíamos, principalmente pela poluição e agrotóxicos. Mas ficou pior muito rápido, efeito do capitalismo, este sim, impossível, mas ainda sem substituto aceitável. Além de sermos empáticos e generosos, acho q a solução também tem q ser individual, como a que o Hirayama do Dias Perfeitos encontrou. Mas não anda nada fácil, certo?
Tem uma banda, chama craft spells, q tem uma música com o título de "komorebi", onde a letra conversa muito com o seu texto. Vale a pena conferir.
Nossa, não acredito que outro brasileiro escuta essa banda! Eu adorava muito esse som uns anos atrás – agora faz tempo que não escuto –, e não tinha reconhecido a palavra como o nome de uma música do Nausea. Obrigada por isso.
Faz tempo que não ouço eles tbm haha mas são incríveis. Obrigado pelo texto, me contemplou em muitos aspectos. Força pra gente!
desconfio que as gerações mais jovens - que já cresceram com smartphones em mãos - não experimentaram o tédio como nós, aquelas tardes intermináveis. aceleramos tanto o tempo que o que eles sentem agora é uma agonia de estar perdendo alguma coisa importante a cada segundo, uma angústia, uma ansiedade. acho que a natureza entra um pouco nesse pacote: o tempo dela é outro, lento, definido, preciso. não tem velocidade 2x, pular 10 segundos...
É isso aí. Lendo teu comentário, me ocorre que o problema é justamente esse: a diferença entre a nossa noção de tempo e o tempo da natureza ficou imenso demais.
Ontem ouvi uma aula/resenha sobre o livro "Nação dopamina", e o cérebro deles (até o nosso, que também entrou nessa onda, embora ainda tenha lembranças do tempo em que não estávamos hiperconectados) está tão habituado àquelas doses de dopamina, que busca sempre mais, pra equilibrar - é que, quando detecta o excesso, o cérebro vai lá e derruba o nível lá pra baixo, nessa tentativa de chegar ao equilíbrio, e vira um círculo vicioso. Bem louco. Esse trecho aqui tá fantástico, porque os excessos relacionados à comida definitivamente fazem o mesmo que os excessos digitais: "Aquele tempo no Instagram em que parece que você comeu um pacote inteiro da coisa mais cheia de conservantes e corantes e aromatizantes e que nem gostosa era, e agora lide com isso, se contorcendo de arrependimento e queimação no estômago."
Que lindeza de reflexão! Olha como “Dias Perfeitos” rendeu. Eu adorei o podcast do MUBI com o Wim Wenders (alias, ele mora no bairro vizinho ao meu e um dia, no meio da pandemia, eu o vi na rua). Btw, eu amei essa afirmação “as pessoas que você gosta na vida real mas que nas redes sociais são insuportáveis”. Me deu um alívio porque, oh, God!
Adorei que você deu essa dica do podcast do MUBI! Separei aqui, só ainda não consegui ouvir. E SIM, a coisa da persona virtual é brabo. Medo de ser uma dessas no Instagram hahaha.
Nossa, eu falei sobre essa “lentidão” dos anos 90 esse final de semana com meu marido. Ouvi uma música que eu adoro e lembrei que a primeira vez que eu escutei, eu não tinha a opção de escutar de novo. Tinha que esperar tocar na rádio. Engraçado que isso não me causava ansiedade. Hoje em dia saber que uma banda que eu gosto lançou um novo álbum e eu ainda não consegui ouvir todo, me causa ansiedade
A gente nem conhecia essa palavra "ansiedade".
Dias perfeitos me tirou do eixo. Baita texto, Carol.
obrigada, Daniel!
Interessante como cada um tira uma coisa diferente de "Dias Perfeitos" né. Eu gostei demais da ética de trabalho do personagem, como ele leva a sério e faz com o maior cudado o trabalho dele - limpar latrinas. Também me impactoiu e relação dele com a leitura, aquele livrinho que ele fica lendo no tatame antes de dormir - um objetivo de vida.
E o livro é um Faulkner! Fiquei curiosa pra saber qual, hehehe
Acabei de achar. "Wild Palms" do Faulkner, "Eleven" da Patricia Highsmith e mais dois japoneses
meu filme preferido até o momento. aquele encantamento que ele sente contemplando a natureza é muito bonito. a simplicidade que ele leva a vida parece uma reza diária que ele faz…
Tem um documentário chamado “Moriyama-san” produzido por Bêka and Lemoine em 2016 que muitos alegam ter sido a inspiração pra criação do Hirayama de Wenders. Se é verdade ou não, não sei. Mas o fato é que as semelhanças são grandes mesmo!
Olha, não sabia disso! Vou atrás.
Lindo texto! Nosso exílio no smartphone é insuportável. O antropoceno é a nossa extinção. Dias perfeitos nos convida a prestar atenção à vida perfeita que já está aqui bem pertinho. Abraço.
disse tudo, exílio no smartphone...
Caramba, Carol. Excelente gancho entre o mundo em agonia, nossa busca em se conectar com a natureza, e Dias Perfeitos. Até tenho a sensação de que não deixamos tempo livre para observar o mundo diante do bombardeio constante de notícias neste aparelho eletrônico doido que carregamos no bolso. Por isso às vezes até parece ser 'errado' ter um comportamento de Hirayama e se entregar à simplicidade enquanto o mundo se corroi. Era bom ter algum conforto e muitos nadas pra fazer nas tardes preguiçosas dos anos 90 :~ agora seguimos na busca por alguma paz e equilíbrio em meio ao caos. Baita textão, amei demais <3
Boa, Lidyanne, você tocou num ponto essencial: parece errado. A sociedade nos vende, por motivos óbvios, a ideia de que bonito é ser produtivo, bonito é não ter tempo pra nada.
muito bom te ler
ecoa sentires que por aqui muito tem me mobilizado (e também imobilizado)
agradeço demais!
Te agradeço também, Diana! Força pra gente.
ai, carol, você me inspira tanto.
poxa, hiago, dá um quentinho no coração ler isso <3
Carol, como sempre sua voz nos traduzindo espetacularmente. Como todos, tenho sofrido com a crise climática no BRA. Mas, a sociedade cafona continua lavando calçada com máquina de jato e cimentando os quintais (como disse a FY). O lance é mesmo o Agora e, mesmo sofrendo, precisamos ficar o mais próximo possível de Gaia. Grande abraço. (PS: Uma Casa No Fim Do Mundo ❤️)
É brabo. Meu pai me contou essa semana que um vizinho de Porto Alegre queria mandar contar umas plantas frutíferas porque estavam atraindo... pássaros. É muita taquanhice.
Afff … POA depois de tudo!! 😩
Pois então, muito jovem eu já achava q era insustentável o jeito q vivíamos, principalmente pela poluição e agrotóxicos. Mas ficou pior muito rápido, efeito do capitalismo, este sim, impossível, mas ainda sem substituto aceitável. Além de sermos empáticos e generosos, acho q a solução também tem q ser individual, como a que o Hirayama do Dias Perfeitos encontrou. Mas não anda nada fácil, certo?
Não anda! É uma luta diária.
Muito lindo, Carol 😮💨❤️
Crianças são a natureza 😉