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Chorei lendo, talvez o choro contido dos últimos dias desaguou. Sou uma das privilegiadas que nao teve a casa alagada. Moro no Centro Histórico de Porto Alegre e estamos há 14 dias sem energia elétrica. Estou abrigada em casa de amiga em Viamão e, na medida do possível, ajudamos na Cozinha Solidária do MST que produz milhares de marmitas e as envia para vários abrigos, inclusive de helicóptero para a arrasada Eldorado do Sul, onde 4 assentamentos de produção agroecológica estão submersos em águas barrentas. Em frente à cozinha, no Assentamento Filhos de Sepé, há um grupo de mulheres costurando calcinhas solidárias para doar às abrigadas. Dentre elas, mulheres que perderam tudo na enchente em Eldorado. O MST tem sido - como sempre foi a mim - meu alento, minha terapia, minha cura de mim mesma. Me orgulho de ser apoiadora deste movimento histórico que segue fazendo o que sempre fez (coletividade, partilha, luta, agroecologia e solidariedade). Apesar das contradições inerentes a tudo que é do humano, sem romantizar demais, há esperança no fim do túnel deste mar de lama podre cheia de agrotóxico, terra arrastada por solos desprotegidos na monocultura do agro, plásticos, lixo e corpos mortos de bichos que somente são percebidos enquanto recursos e não como vidas que compõe a teia biodiversa de nossa existência.

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Carol, sei que para quem está longe é difícil saber como ajudar, mas gostaria de te dizer que tu me ajudaste demais com esse texto. Eu ainda não consegui elaborar bem os sentimentos diante de tudo que nos acontece, além de cometer pequenos textos encharcados de dor, e ajudar tem sido uma bóia salva-vidas para mim e para muita gente. É o que podemos fazer por quem está mais vulnerável. E parece que somos muitos os capazes de sentir a dor dos outros, que bom. Tudo o que não queremos é que as coisas voltem a ser como antes, desenhadas para o desastre. O futuro é mais turvo do que as águas do Guaíba, mas se esse respiro de utopia nos levar por caminhos mais justos será uma conquista no meio do caos. O que fica claro em todas essas tragédias, ainda que raptem nossos perspectivas por um tempo, é que não existem soluções individuais frente ao levante da natureza. No RS, a fresta de lucidez aberta pelas águas talvez nos apresente soluções coletivas. Vou comprar o livro. E me convencer que podemos sonhar um pouquinho no meio de tanta lama. ❤️

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Minha solidariedade daqui de Cabo Verde. Não deve estar sendo nada fácil. Abraço fraterno.

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Um abraço apertado, não sou gaúcha, mas senti aqui como se fosse a dor e aflição de pés secos.

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Coração aperrado, Carol. Tentando fazer um pouquinho daqui. 🤗🤗 beijo pra ti 😘 e para a Júlia também!

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as imagens são desoladoras...

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Seus textos, sempre tão pungentes. Chorei inúmeras vezes. Com o texto. Com a chuva. Com o negacionismo.

E de fato, acho que você podia se oferecer pra fazer a tradução desse texto pra cia das letras, porque vai ser muito vendido com certeza!

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"A resposta civil a uma catástrofe seria uma espécie de janela para a utopia"... ou também uma janela para olhar para outras formas de viver de outros povos, onde não há exploração e sim divisão de tarefas e comunhão

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Uma coisa que me chama muito a atenção nessa tragédia do RS é a dedicação das pessoas a salvar os animais, em particular, cachorros. No meu feed não para de aparecer vídeos comoventes sobre cachorrinhos resgatados do alto de telhados submersos. Como amante dos animais que sou, me pergunto onde estavam essas pessoas ao longo do ano, quando milhares deles são abandonados e maltratados, sem que nada ou ninguém os proteja. Em um dos abrigos improvisados de cachorros, fizeram um vídeo deles recebendo bichinhos de pelúcia de presente. Em tempos "normais", quando isso ocorreria?

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Obrigada, Carol, por esse texto emocionante.

Muito duro testemunhar isso tudo de longe, e sim, o sentimento de identidade vem à tona, mais forte do que nunca. Fiz também lá na minha news parisiense uma edição especial sobre a enchente de Paris em 1910. Que foi grande, mas longe de ser devastadora quando essa. Difícil achar as palavras adequadas. Com um pouco de sorte, conseguiremos nos inspirar dos que já passaram por isso quando passar o momento da urgência e chegar a hora de reconstruir. Abraços expatriados

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Que texto. Tocou fundo uma gaúcha vivendo aqui e acompanhando a tragédia de perto. Obrigada por isso.

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"e me pergunto por que nós não conseguimos ter esse senso comunitário na vida cotidiana, especialmente em um país tão desigual quanto o Brasil" - porque quando pensamos no próximo, fora de um cenário de catástrofe, entende-se que estamos pregando o comunismo.

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Muito obrigado por escrever, Carol.

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