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Andreia Meinerz's avatar

Chorei lendo, talvez o choro contido dos últimos dias desaguou. Sou uma das privilegiadas que nao teve a casa alagada. Moro no Centro Histórico de Porto Alegre e estamos há 14 dias sem energia elétrica. Estou abrigada em casa de amiga em Viamão e, na medida do possível, ajudamos na Cozinha Solidária do MST que produz milhares de marmitas e as envia para vários abrigos, inclusive de helicóptero para a arrasada Eldorado do Sul, onde 4 assentamentos de produção agroecológica estão submersos em águas barrentas. Em frente à cozinha, no Assentamento Filhos de Sepé, há um grupo de mulheres costurando calcinhas solidárias para doar às abrigadas. Dentre elas, mulheres que perderam tudo na enchente em Eldorado. O MST tem sido - como sempre foi a mim - meu alento, minha terapia, minha cura de mim mesma. Me orgulho de ser apoiadora deste movimento histórico que segue fazendo o que sempre fez (coletividade, partilha, luta, agroecologia e solidariedade). Apesar das contradições inerentes a tudo que é do humano, sem romantizar demais, há esperança no fim do túnel deste mar de lama podre cheia de agrotóxico, terra arrastada por solos desprotegidos na monocultura do agro, plásticos, lixo e corpos mortos de bichos que somente são percebidos enquanto recursos e não como vidas que compõe a teia biodiversa de nossa existência.

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Juliana Tomkowski's avatar

Carol, sei que para quem está longe é difícil saber como ajudar, mas gostaria de te dizer que tu me ajudaste demais com esse texto. Eu ainda não consegui elaborar bem os sentimentos diante de tudo que nos acontece, além de cometer pequenos textos encharcados de dor, e ajudar tem sido uma bóia salva-vidas para mim e para muita gente. É o que podemos fazer por quem está mais vulnerável. E parece que somos muitos os capazes de sentir a dor dos outros, que bom. Tudo o que não queremos é que as coisas voltem a ser como antes, desenhadas para o desastre. O futuro é mais turvo do que as águas do Guaíba, mas se esse respiro de utopia nos levar por caminhos mais justos será uma conquista no meio do caos. O que fica claro em todas essas tragédias, ainda que raptem nossos perspectivas por um tempo, é que não existem soluções individuais frente ao levante da natureza. No RS, a fresta de lucidez aberta pelas águas talvez nos apresente soluções coletivas. Vou comprar o livro. E me convencer que podemos sonhar um pouquinho no meio de tanta lama. ❤️

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