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umas das grandes diferenças que comecei a notar entre meu eu-de-20-anos e meu eu-de-30-anos é uma grande falta. demorei um bom tempo para perceber que essa falta era aquele desejo onipresente de ser desejável o tempo todo. não sei bem como a chave virou, mas sinto que agora até tenho certa aversão à ideia das pessoas desejando meu corpo massivamente, dá uma preguiça enorme.

também acho curioso que essa grande preguiça começou bem pequena, há uns anos, coincidentemente quando eu comecei a me relacionar (e desejar) mais mulheres do que antes. quando fico com uma mulher, sinto esse lance do espelho, uma coisa que nunca acontece quando estou com homens, é um movimento emocionalmente diferente. tenho a sensação de que o afeto com os homens tem algo sobre desejar o que eles tem e eu não tenho, enquanto o afeto com mulheres é uma espécie de celebração de reconhecimento, sobre as coisas que nós temos em comum, juntas.

enfim, o texto me deixou pensando sobre essas diferenças tão escandalosas, mas que recebem tão pouco da minha atenção no dia a dia. obrigada por dividir a reflexão :)

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Opa, obrigada por dividir tua experiência também. Gostei da "celebração do reconhecimento" :)

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Desde que fiz 40 anos ouço muita gente dizer que eu não aparento ter essa idade. Mas por quê? Qual é o problema em ter 40 anos? Ou pior, qual é esse imaginário da mulher de 40 anos?

Morando no Canadá, me sinto um pouco mais protegida dessa cobrança pela juventude eterna. Mas cada ida ao Brasil é um tapa na cara, com as perguntinhas “inocentes”: Por que você não faz uma lipo? Você toma muito café? É que seus dentes não são muito brancos. Amiga, você não acha que passou da hora de encarar um botox?

Uma vez o pai de uma amiga falou que eu engordei, mas a última vez que ele tinha me visto eu tinha 16 anos, ele esperava que aos 40 eu ainda tivesse aquele corpo de 16. Puxado!

O mais doido de tudo isso é que eu nunca senti meu corpo tão potente, tão (to tentando achar um sinônimo para empoderado)... LIVRE! Do que agora, aos 40.

As relações com outras mulheres influenciaram nisso? Sem dúvidas! Percorrer um corpo feminino sem a intenção de comparação, mas simplesmente de contemplação e prazer, e aceitar esse olhar de volta me ajudou a me entender como uma grande gostosa! Tipo você Carol, um brinde às gostosas 🍾🥂✨💖

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Esse era outro assunto que eu queria desenvolver aqui: o quanto a pressão é diferente no lugar onde moro se comparado à pressão no Brasil, então super te entendo. Fico pensando como seria a minha vida se eu morasse no Brasil hehehe. Seria possível aguentar a pressão? Enfim, eram muitos temas correlatos pra tratar, de repente uma hora volto ao assunto e trago mais coisas.

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Esse tema está no topo de meus interesses atuais. À primeira vista parece algo superficial, mas você vai lendo pensadoras e descobrindo que a nossa aparência, ou a forma com que nos mostramos ao mundo, e a forma com que a aparência de outras pessoas nos atrai ou rejeita nosso olhar está muito ligada às relações, à sexualidade, ao desejo. O mito da beleza abriu minha compreensão sobre muitas questões. A história do feio trouxe outras. Agora vou atrás desse que você indicou. Gracias.

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Bah. Esse ponto 9 é uma das "minhas questões" (aqui da minha perspectiva, claro, imagino que para mulheres a coisa tem bem mais e outras camadas). Parece mesmo que, depois que comecei a me relacionar sexual e afetivamente com outros homens (um tantinho depois dos 16 né, hahahaha), a minha relação com o meu próprio corpo mudou completamente, e essa palavra "descobrir", nesse espelhamento realmente intrigante, faz bastante sentido pra mim tb (pra ser honesto, tive outros processos concomitantes ao da aceitação da minha sexualidade que tinham a ver com corpo, então na verdade é uma questão meio ovo-ou-galinha). Mas o que me pega é isso que tu traz: enquanto existem casais que parecem de irmãos ou irmãs (acho um tanto bizarro), eu me pego toda vez atraído por tipos de corpos muito diferentes do meu (aí mtas vezes puxando pra um padrão mais socialmente celebrado, confesso) e também por uma performance, uma "resposta aos ideais" masculinos, também bem diferente (nesse ponto o que é socialmente celebrado me interessa bem pouco). E também me instiga pensar como esses processos individuais se cruzam com os sociais, com esse "mercado" que determina o que faz ou não um corpo aceito/conformista/atraente/celebrado etc. Enfim.

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Vamos conversar sobre isso ao vivo? Vou pintar em POA em agosto!

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ah, lógico que vamos :) me avisa!

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Bom dia, Carol.

Tenho 43 anos e só recentemente descobri que tinha pescoço. Não quero entrar na roda dos procedimentos estéticos, mas a pressão é forte demais, como você mesma pontuou.

Me reconhecer bela, unicamente a partir dos meus próprios valores, tem sido um trabalho de tempo integral. Nascer num corpo feminino é fazer revolução desde o minuto zero.

Muito boa a sua reflexão e o texto delicioso de ler. Te faço um convite: semana passada escrevi um ensaio - EU QUERO SER BONITA - caso queira uma leitura complementar. Está aqui no meu perfil do Substack.

Um beijo.

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Obrigada, Roberta, vou ler teu ensaio sim!

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Eu sempre fui magra, passei a vida sem fazer grandes sacrifícios pela beleza, sem fazer dieta, sem fazer exercícios. Minhas opressões sociais sempre foram mais psicológicas do q sobre meu corpo kkkkk. Aí fui chegando nos 40 e vendo me sentindo flácida e sem energia, com dores pelo corpo. E agora tô tendo q fazer tudo q sempre detestei pela saúde e também pela aparência.

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Aos doze, comecei alisar o cabelo. Durante os anos seguintes, sentia enorme prazer em ouvir que meu cabelo não parecia alisado. “Nossa vc alisa?! Parece natural”. Eu gozava nessa falta. Ano passado, eu já com 38, decidi atravessar a transição e rever meus cachos. Foi um grande susto. Fui do cabelo curtíssimo ao médio. No entanto, pareço ainda habitar a tal fase de transição, quando se reconhecer exige algum esforço. Comentei semana passada com algumas amigas que não me sinto tão bonita. Não como antes, eu disse. Os olhares também me dizem sobre isso. Tornou-se um esforço existir como eu sou, sem artifícios. Obrigada pelo texto, Carol.

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Que lindo! Obrigada por compartilhar essa experiência.

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Nossa... abriu a caixinha da adolescência aqui! Pra variar, uma news maravilhosa. Estou tentando pagar e o substack não está aceitando nem o cartão do Brasil e nem o da Espanha! Estou tentando resolver esse problema logo - até porque estou lendo a praça do diamante e não queria perder esse encontro (mesmo sendo no dia do meu aniversário ☺️)

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Sabe que eu também tive dificuldade em assinar uma newsletter brasileira esses dias? Só funcionou na terceira tentativa (não me lembro se mudei de cartão e não me lembro sequer que cartão eu estava tentando usar). Se você descobrir a solução dessa treta, me conta. E SIM, seria lindo te ter no clube! Que legal que você tá lendo a Rodoreda. :)

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O controle social para as mulheres tem várias camadas, para usar expressão vigente, a beleza é uma e se escapar dela, tem a maternidade, ou seja, difícil fugir das regras impostas, sob todos os aspectos. Mas não impossível.

Mudando de assunto, acabei Diorama ontem. Leitura rápida de dois dias, gostei muito. Muitas referências musicais e de lugares familiares. Congrats!

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Ah, que massa que você gostou! :)

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Uau, que texto! A vontade é de comentar cada pedaço, o texto falou inteiro comigo (e, pelos comentários, com muita gente). Vou entrar no texto pelo botox. Há uns meses, em uma conversa no trabalho, eu com meus 36 anos comecei a me sentir atrasada por não ter feito nenhuma aplicação. Venho de uma família de mulheres vaidosas, muito mesmo. Minha tia quando estava internada pediu para uma cabeleireira ir arrumar o cabelo dela no hospital. E ela, se sentindo bonita, se recuperou mais rápido (acho isso bem tocante inclusive). Eu fui o contrário, me negava a sequer cortar o cabelo quando adolescente. Então na conversa, eu com meu fear of missing out, acabei perguntando para o rapaz dermatologista sobre as aplicações, a periodicidade, o preço. Ele fez uns testes em mim, pediu para eu contrair assim e depois assim a testa. E descobri que na verdade não tenho ainda as linhas que rasgam a testa de ponta a ponta, nem um sinal delas. E aparentemente, isso é sorte para alguém depois dos 30 (assim me foi dito). Não pude conter, eu fiquei feliz, com esse discreto drible no destino. E eu achei que pronto, a questão botox estava, por ora, resolvida. Mas não. As rugas têm que ser combatidas em todas as frentes, a prevenção é uma delas. Então eu tinha indicação sim de espetar umas agulhas em minha testa que petrificassem aí uns músculos para que meu rosto paralisado não fosse capaz de se expressar. E sem expressão, não há rugas. E sem rugas, não há expressão. Tô seguindo numa viagem aqui, já deu para ver, mas me pergunto se o botox, que paralisa os músculos da face, não acaba paralisando outras coisas também, mais profundas. Não sei exatamente quais expressões humanas movimentam quais músculos faciais, mas me aflige pensar que quando um dia, quando todas nós discordarmos, questionarmos, ficarmos impacientes, sentirmos raiva, me aflige pensar nas sobrancelhas inertes, semi-mortas. Quem consegue se expressar assim? E, diferente da memória, tão subjetiva, que nos escapa pelos dedos, as rugas são marcas vivas de alguém que um dia riu gargalhadas com os amigos, chorou horrores o fim de um relacionamento, cantou aos gritos de olhos bem fechados sobrancelhas contraídas um show do seu artista predileto? Todas essas emoções, que escavam lentamente a pele, marcam uma vida, por que combatemos elas, do que estamos fugindo? A juventude é uma vida por vir, um sonho; a velhice é uma vida vivida, uma realidade. Eu ainda não me rendi ao botox preventivo, nem as marcas de uma vida eu conquistei. Não vou ousar falar “eu nunca”. Mas, por ora, resisto.

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