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Para todas as leitoras curiosas – e há sempre muita curiosidade sobre isso –, costumo dizer que escrevo as páginas dos meus livros na exata ordem em que elas aparecem; nada de escrever primeiro uma cena que só acontecerá lá na frente, ou então achar um novo lugar para um capítulo que não estava soando bem na posição que estava. Nas minhas histórias, já há muitas idas e vindas temporais; acrescentar mais um embaralhamento no processo todo seria meio enlouquecedor e, para mim, bastante anti-natural.
Mas houve uma exceção. Aconteceu no O Clube dos Jardineiros de Fumaça. Quem leu sabe que a trama principal do livro é quebrada vez ou outra por uma biografia romanceada de personagens reais e fictícios que se relacionam com a história da maconha nos Estados Unidos e com a guerra às drogas. Pois bem, escrevi quase todos esses capítulos-biografias antes de escrever uma linha sequer da trama principal. Houve dois motivos bem pragmáticos para isso e uma consequência inesperada. O primeiro motivo era que eu estava morando em Porto Alegre na época; tinha marcado uma viagem para a região da Califórnia onde se passa o romance, mas aquilo ainda ia levar uns meses para acontecer, de maneira que optei por começar a escrita pelos capítulos que só exigiam pesquisa bibliográfica, não pesquisa in loco. O segundo motivo era que parecia bem mais sensato escrever aqueles capítulos ainda no calor da pesquisa, do contrário eu esqueceria 99% das informações necessárias até a hora de escrever, e certamente teria que reler calhamaços e calhamaços sobre cultivo de guerrilha, clubes de maconha medicinal e agentes obsessivos do governo.