O Caderno Amarelo #15
auto-ajuda; por que tudo parece perfeito de longe; o erro que eu não quero que você cometa
Caderno Amarelo é uma edição especial da Nevoeiro, que fala sobre criação literária a partir do processo de escrita do meu próximo romance. Se você não é assinante pago, vai encontrar o antipático Paywall em algum momento aí embaixo. Perdão, mas os artistas precisam manter a sua lojinha! Colaboradores também têm acesso a encontros mensais via Zoom.
1.
Andei pela França recentemente e achei engraçado comparar as livrarias de lá com as livrarias daqui dos Estados Unidos. Os livros franceses criam um conjunto uniforme acachapante. Eles não suplicam, não apelam, só ficam ali parados, como se não quisessem ser abertos; como se ter uma capa que chama a atenção fosse o pior dos pecados possíveis, um individualismo extremo e vaidoso que vai contra todos os valores do Grande e Precioso Conhecimento da Capa Branca.
Corta para meu eu desgrenhado de camisa de flanela de volta à costa californiana lendo um livro chamado Meditação para mortais, de um certo Oliver Burkeman. Enquanto isso, em um subúrbio de Paris, uma amiga lê No meio da vida, uma perspetiva junguiana. O livro dela tem capítulos com títulos tipo “Hermes, guia das almas no limiar da vida”. O meu? “Terminando coisas: sobre a magia da conclusão”.
2.
Faz tempo que não termino de fato alguma coisa. Ou melhor: ultimamente as coisas que termino são as edições dessa newsletter, e agradeço a vocês por isso. A sensação é boa. Terminar. Eu me dedico bastante às edições, mas sei ainda assim que a escrita não vai levar mais de um turno, no máximo dois – coloquei esse limite –, e portanto não há muito tempo para decidir se devo começar pelas livrarias francesas, pela descrição de uma cidade do interior de Santa Catarina ou por um manifesto entusiasmado em defesa da literatura de imaginação.
Será imperfeita? Será. Mas é um exercício que recomendo para pessoas com tendência ao perfeccionismo e às sucessivas procrastinações que resultam disso. Pense bem: se eu não tivesse um compromisso com essa newsletter, possivelmente nenhum dos textos que eu produzi aqui existiriam. “No processo de construir um texto que vai ser lido”, disse a Isadora Sinay outro dia no seu Substack, “minhas ideias se organizam”.